1. |
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Corpos pesados sobrevoam o imenso azul
Um triste azul
Que se dá sobre nós
Sequer ficamos juntos por mais de algumas horas
Procuro outro assunto
Aspiro qualquer coisa além
De observar os porcos
Sobrevoando o todo
Acabo condensando tudo
Alimentando as dores de outros tempos
Os cães só ladram quando se chega perto
Tem quem só acredita no canto do berro
O pão ainda nos é divido às cegas
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2. |
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Sinto quando a brisa cede
Penso que ainda tenho medo
O tempo é uma ilusão do cão
Penso que pensando enfrento
Os monstros que ainda aqui frequentam
Profundo num âmago cético
O cerne de toda a descrença
O caos contemplo desde cedo
Cortando a carne de quem não crê
Quem crê ainda tem esperança
Eu tenho um corpo cansado
De quem vê tudo errado
Há quanto tempo que não tenho sonhos
Sinto quando a brisa cede
Penso que ainda tenho tempo
O medo é uma ilusão do cão
Faço alusão aos poetas
Na inquietude, flertando com a dor
Mas lembro de um dia de sol
Um sol de verão
Um verão tão azul
Um azul tão sem cor
Um sem cor outonal
Como tudo a desbotar
A escorrer, acabar, padecer
Acreditar nunca bastou
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3. |
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Noite que se põe
A chuva cai, o sol não vem
A lua pálida desbota
O céu sem cor lembra você
E eu não acostumei
Simplificar o sentimento
E escrever como um qualquer
Serei na madrugada a sua fuga
A sua escada pra fugir desse incêndio
E vir pegar fogo comigo
Serei na madrugada a sua rua
Pra então fugir dessa loucura
E se perder de tão sem rumo e numa boa
Ela diz que quer outro lugar
Distante daqui, mais perto do mar
Mais perto de mim, de nós
E diz que sim, a sós é bem melhor viver
A mesmice não lhe satisfaz
Nem o tom desses dias banais
Nada pode ditar o que ela deve ou não deve fazer
Diz que vai pra morrer e nem aí
Vigor de invejar, não vou mentir
Vivacidade, sagacidade, plasticidade no existir
Bela feito um quadro de Dalí
Inspiração na poesia de Rimbaud
Inspiração dessa canção e de todas outras canções de amor
Que hei de escrever pra dizer o quanto amo você
Há de sorrir e dizer que é outro clichê de amor
Há de sorrir e dizer que me ama também
Há de sorrir e dizer que isso tudo é tão bom
Serei na madrugada a sua fuga
A sua escada pra fugir desse incêndio
E vir pegar fogo comigo
Serei na madrugada a sua rua
Pra então fugir dessa loucura
E se perder de tão sem rumo e numa boa
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4. |
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De volta esse quarto escuro
O sol já não conversa comigo
E eu só espero que essa paixão
Perdure mais que esse sonho
Delírios de uma noite sem fim
De uma paixão sem fim
Dia de mar sem porquê, a lua sangra no céu
Um Buda no alto das pedras, tocando guitarra
Enquanto subo descalço
A onda batendo é tão lindo
Rolando um beck de hash
Minha mente tua prisioneira
Veja só, parece intrínseco a nós
Noites em claro
Bobagens ditas no ato do beijo
No alto do teu céu
No sexo
Feito o nascer do breu, às seis
Feito nós de um só ser
Feito de refutar a verdade, vivendo embriagado
Eu vou mudar pra Joaquina
Adeus, cidade blue
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5. |
Filme B
03:16
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Vai, não volta atrás
Já não há mais tudo o que existia outrora
Que fazia bem, mas um porém
Ainda temos um ao outro
Vai, não volta atrás
Já não há mais aquela angústia da partida
Que te fez tão mal
E tão igual que até parece repetida
De um filme B
Feito a melancolia
De um filme B
Com um argentino na trilha
Um filme B
Que você não assistirá
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6. |
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Difuso esse pensamento
Atento à literatura russa
Confundo-me em algum tempo
Há tempo pra confundir tudo
De modo mais sagaz entendo
Compreendo, o tempo se desfaz
E há tempo enquanto canto, enquanto penso
Há tempo enquanto leio
Difuso outro pensamento
Atento à literatura russa
Confundo-me em algum tempo
Há tempo pra confundir tudo
E o que mais me apraz dentro desse roto
É o já escrito
Que me satisfaz nesse absurdo
É o lodo explícito
Dito por Fiódor, Tolstói, Gógol, Tchekhov
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7. |
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Lembrei de ti em meio a leitura do Camus
De todas vezes que disse preferir Sartre
Eu omiti o constrangimento perante a situação
Mas confesso, não entendi tua predileção
E ainda me sinto antiquado
Me adjetivo um drogado e lembro que é outra fuga
Você me acusa de sempre tentar fugir de tudo
E eu te acuso de sempre estar com a razão
E sigo mudo, escrevo por obrigação
Eu vejo o mundo cada dia mais perto de todo o absurdo
Que outro dia eu li de um francês obscuro
Que dizia que o nada é o sentido de tudo
E que o todo, obtuso, é mera convenção
Sofro por antecipação
Mas afinal esses russos só queriam um amor
E o calor da paixão inventada
Pra aquecer esses dias de jaula, num frio siberiano
Vago na vã insinuação
Que nunca mais me encontraria ao seu dispor
Mas no calor da paixão inventada
Na liberdade do ser ante o nada
Eu digo que te amo
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8. |
Como O Filósofo Me Disse
02:54
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Eu te escrevi um disco
Eu li todos os teus livros
Deixei de lado o niilismo e desdenhei o meu escritor favorito
Levei teu bicho pra passear, te fiz carinho até dormir
Acreditei no nosso amor e então sofri
Assim como se sofre
Como o filósofo me disse
E então chorei todos os dias
Só pensando em ti
Como se sofre assim?
Como o filósofo me disse
Alavancou meu pessimismo e meu discurso contra a vida
E então se foi
(Pra não voltar mais)
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9. |
Prelúdio De Um Blues
03:42
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Baby, não me importo com as roupas há três dias no varal
Sequer aspiro usá-las
Não, não importa o sumiço
Eu estou aqui, não estou?
Não importa que outra babou o meu beck
Não importa, baby
O que importa, baby?
O que importuna é esse refluxo
Esse impulso elétrico, como um pseudo choque epilético
E uma vertigem que às vezes parece pressão, às vezes coração
Às vezes parece abuso de drogas
Ou a suspensão abrupta do antidepressivo, que caríssimo
Não anda cabendo no orçamento
Quiçá nem no poema, baby
Pena, baby, pena
Não me dê as costas
Não assim, não agora
Eu te acendo cigarros
Eu afago teu ego
Pelas ruas de um Porto
Eu moro em teus cabelos
Eu te esqueço, e no ato do beijo, eu sinto a morte
Eu sinto o gosto dela e é tão bom
Eu sinto o gosto dela e é tão bom
Perdi dois dentes, baby
Pareço Chet Baker, sem metáfora
Soco na cara
Droga de vida, baby
Isso merece um blues
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10. |
John Lennon No Parque
06:06
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A vida é uma fantasia
John Lennon no parque
Solidão alegre
Meu pai não existe
Eu tenho onze anos
No capô de um carro
Cantando:
Help me if you can, I'm feeling down
Saudade meu amigo Dion
O pânico não tem dó, eu sei
Cantando:
Help me get my feet back on the ground
Lipe aos 15 anos e já cheirando pó
Help, please
Help
Se a vida passou e a gente nem percebeu
Veja o que restou do fim
Que era tão distante a nós, mas tão inerente
Eu quero um do bom
Tocar rock n roll
Bebendo vinho barato, na garrafa de plástico
No sol da redenção, às três
Eu quero rock n roll
Torrar um do bom
Bebendo vinho barato
Nós e o Fábio, o Renan não vem
Tem que trabalhar pra pagar o aluguel
A vida é uma fantasia
John Lennon no parque
Diazepan aos onze
Crise de ansiedade me fez um drogado
A vida é uma fantasia
John Lennon no parque
Solidão alegre
Meu pai não existe
Eu só tenho onze anos
No capô de um carro
Cantando:
Help me if you can, I'm feeling down
Saudade meu amigo Dion
O pânico não tem dó, eu sei
Cantando:
Help me get my feet back on the ground
Hoje eu não me sinto mal, não
Vendi meu revólver pra comprar mais droga
(Taxman)
A vida é uma fantasia
(Às seis da manhã)
John Lennon no parque
(Às seis da manhã)
Lipe aos 15 anos já tomando ácido
(Às seis da manhã, em frente à igreja)
E eu na detenção
Cantando:
Help
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